domingo, 30 de junho de 2019

Gardnerella vaginalis



VAGINOSE BACTERIANA




De acordo com a classificação científica, a Gardnerella vaginalis é uma espécie de bactérias de tipo morfológico cocobacilo, de respiração anaeróbia facultativa e sobrevivência em ambientes de pH elevado, como a microbiota vaginal da maioria das mulheres em idade reprodutiva. Além dessas bactérias, as mulheres saudáveis também possuem um número considerável de Lactobacillus com pH baixo (<4,5) que através da glicólise mantém o pH ácido. Durante o ciclo menstrual ocorrem alterações no pH vaginal que, em sua progressão, tem o pH aumentado e, consequentemente, levam a um decréscimo de lactobacilos e a um aumento concomitante de outras espécies anaeróbias facultativas. Dessa forma, A Gardnerella vaginalis, em associação a outras bactérias dos gêneros Atopobium, Prevotella, Mobiluncus, e Sneathia pode, então, provocar um rompimento do equilíbrio microbiano vaginal chamado de vaginose bacteriana.




Figura 1: Bactéria Gardnerella vaginalis (Fonte: Pixels, 2018).




A Vaginose Bacteriana é um desequilíbrio na flora vaginal causado pela falta de lactobacilos suficientes para a manutenção do potencial Hidrogeniônico. A história natural procede de um crescimento considerável da flora anaeróbia obrigatória. Metade das mulheres é assintomática, mas a Vaginose Bacteriana pode incluir secreção vaginal delgada, homogênea, geralmente de cor branca e com odor. Coceira, inflamação e irritação podem ocorrer em cerca de 15% das mulheres.
A Gardnerella vaginalis é um bastonete Gram variável, pleomórfico, não capsulado, imóvel e anaeróbio facultativo. Cresce melhor em atmosfera de CO2 por 48 horas a 35 -37 ºC. É encontrada em humanos e em alguns animais, como éguas e cavalos. Além do trato urinário e da bexiga, ela também é encontrada no endométrio, membranas fetais e recém-nascidos e são causados ​​por infecções maternas, infecções neonatais e lesões supurativas. Também pode ser transmitida através de relações sexuais, mas não deve ser considerada como sendo uma Infecção Sexualmente Transmissível.
A Gardnerella vaginalis se liga melhor às células epiteliais escamosas urogenitais devido à camada exopolissacarídica e ao pili. Forma biofilmes que são resistentes ao tratamento com antibióticos e induzem processos inflamatórios que deslocam os lactobacilos nativos de seu habitat. E esse apego fornece um meio de migração do trato genitourinário para o local primário de colonização na bexiga. As mulheres têm células escamosas em seu geniturinário e bexiga e essas células estão ausentes na bexiga de um homem, portanto, são menos suscetíveis a esse patógeno. A presença de células epiteliais escamosas semelhantes a células de pista é observada na urina da bexiga por aspiração suprapúbica em mulheres afetadas por Gardnerella vaginalis e nenhuma é observada em homens.
Não se conhece o motivo exato para o supercrescimento da flora anaeróbia, mas existem fatores que podem alterar o ecossistema vaginal como o uso de antibióticos de amplo espectro, alteração do pH vaginal que se segue à ejaculação ou duchas, traumas vaginais, estados em que há diminuição da produção de estrógeno, etc. Estas alterações podem levar à infecções pelos agentes que normalmente compõem a flora normal.
O diagnóstico da Vaginose Bacteriana baseia-se no pH, sempre maior que 4.5, e na presença de células indicadoras ou “clue cells” no exame do corrimento. Por ser uma infecção superficial onde a inflamação está ausente, a presença de leucócitos pode indicar outras infecções, tais como a tricomoníase.
O diagnóstico para Vaginose Bacteriana também pode ser feito através do método de coloração ao Gram, pelo Papanicolau ou pelo isolamento bacteriano. O exame da secreção vaginal através do Gram é mais relevante para o diagnóstico em relação ao isolamento da Gardnerella vaginalis, já que esta bactéria é frequentemente parte da flora endógena vaginal. O esfregaço corado ao Gram permite uma melhor avaliação da flora vaginal e sua preservação permite sua utilização em exames comparativos posteriores assim como a coloração pelo método de Papanicolau.
O objetivo do tratamento é restabelecer a flora vaginal e aliviar a sintomatologia. Como medidas gerais, preconiza-se abstinência sexual e utilização de duchas vaginais com peróxido de hidrogênio a 1,5%. O tratamento farmacológico é feito com Metronidazol e quando isolado de cultura pura como no caso de septicemia, deve-se usar ampicilina ou amoxacilina. Sua presença em altas concentrações sugere um papel muito importante nesta síndrome, embora não seja o único agente etiológico.



Figura 2: Tratamento recomendado e posologia para a Vaginose Bacteriana (Fonte: PebMed, 2018).



CURIOSIDADES


Alguns pesquisadores realizaram uma comparação de grupos afro-americanos e europeus e descobriram que a etnia, a gravidez e o uso de álcool se correlacionaram significativamente com a abundância relativa de espécies associadas à Vaginose Bacteriana. Um fator que costuma causar muito confusão em relação a tais estudos epidemiológicos tem sido as formas imprecisas em que o diagnóstico de Vaginose Bacteriana é feito. Embora a coloração de Gram, cultura, critérios clínicos, métodos de fenotipagem e métodos de diagnóstico molecular tenham sido utilizados, nenhuma característica definidora única de Vaginose Bacteriana foi determinada. Além disso, a Vaginose Bacteriana pode alterar os mecanismos de defesa imunológica e é mais prevalente em populações de baixo nível socioeconômico, idade reprodutiva, etnia não branca, nutrição inadequada, estresse psicossomático e aqueles com maior número e frequência de parceiros sexuais.

REFERÊNCIAS:


Brubaker, Jennifer. Health Status Disparities and the Microbiome. American Society for Microbiology, 2017.

Ferracin, Ingryt; de Oliveira, Rúbia Maria Weffort. Corrimento Vaginal: causa, diagnóstico e tratamento farmacológico. Infarma, 2005.

Gardnerella Vaginalis Bacteria. Pixels, 2018. </https://pixels.com/featured/1-gardnerella-vaginalis-bacteria-moredun-scientific-ltdscience-photo-library.html/>. Acesso em: 24 de junho de 2019.

Gardenerella Vaginalis. MicrobeWiki

Gomes, Julianna Vasconcelos. O que há de novo sobre Vaginose Bacteriana e Vaginite Inflamatória? PebMed, 2018. </https://pebmed.com.br/o-que-ha-de-novo-sobre-vaginose-bacteriana-e-vaginite-inflamatoria/>. Acesso em: 24 de junho de 2019.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA

Microbiologia: Noções Básicas - 2019/2
Docente: Marcelo Ehlers Loureiro
Discente: Vinicius Teixeira Bravim

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