VAGINOSE BACTERIANA
De acordo com a
classificação científica, a Gardnerella
vaginalis é uma espécie de bactérias de tipo morfológico cocobacilo, de
respiração anaeróbia facultativa e sobrevivência em ambientes de pH elevado,
como a microbiota vaginal da maioria das mulheres em idade reprodutiva. Além dessas
bactérias, as mulheres saudáveis também possuem um número considerável de Lactobacillus com pH baixo (<4,5) que
através da glicólise mantém o pH ácido. Durante o ciclo menstrual ocorrem
alterações no pH vaginal que, em sua progressão, tem o pH aumentado e, consequentemente,
levam a um decréscimo de lactobacilos e a um aumento concomitante de outras
espécies anaeróbias facultativas. Dessa forma, A Gardnerella vaginalis, em associação a outras
bactérias dos gêneros Atopobium, Prevotella, Mobiluncus, e Sneathia
pode, então, provocar um rompimento do equilíbrio microbiano vaginal chamado de
vaginose bacteriana.
Figura
1:
Bactéria Gardnerella vaginalis
(Fonte: Pixels, 2018).
A Vaginose Bacteriana é
um desequilíbrio na flora vaginal causado pela falta de lactobacilos
suficientes para a manutenção do potencial Hidrogeniônico. A história natural
procede de um crescimento considerável da flora anaeróbia obrigatória. Metade
das mulheres é assintomática, mas a Vaginose Bacteriana pode incluir secreção
vaginal delgada, homogênea, geralmente de cor branca e com odor. Coceira, inflamação
e irritação podem ocorrer em cerca de 15% das mulheres.
A Gardnerella vaginalis
é um bastonete Gram variável, pleomórfico, não capsulado, imóvel e anaeróbio
facultativo. Cresce melhor em atmosfera de CO2 por 48 horas a 35 -37 ºC. É
encontrada em humanos e em alguns animais, como éguas e cavalos. Além do trato
urinário e da bexiga, ela também é encontrada no endométrio, membranas fetais e
recém-nascidos e são causados por infecções maternas, infecções neonatais e
lesões supurativas. Também pode ser transmitida através de relações sexuais,
mas não deve ser considerada como sendo uma Infecção Sexualmente Transmissível.
A Gardnerella vaginalis
se liga melhor às células epiteliais escamosas urogenitais devido à camada
exopolissacarídica e ao pili. Forma biofilmes que são resistentes ao tratamento
com antibióticos e induzem processos inflamatórios que deslocam os lactobacilos
nativos de seu habitat. E esse apego fornece um meio de migração do trato
genitourinário para o local primário de colonização na bexiga. As mulheres têm
células escamosas em seu geniturinário e bexiga e essas células estão ausentes
na bexiga de um homem, portanto, são menos suscetíveis a esse patógeno. A
presença de células epiteliais escamosas semelhantes a células de pista é
observada na urina da bexiga por aspiração suprapúbica em mulheres afetadas por
Gardnerella vaginalis e nenhuma é observada em homens.
Não se conhece o motivo
exato para o supercrescimento da flora anaeróbia, mas existem fatores que podem
alterar o ecossistema vaginal como o uso de antibióticos de amplo espectro,
alteração do pH vaginal que se segue à ejaculação ou duchas, traumas vaginais,
estados em que há diminuição da produção de estrógeno, etc. Estas alterações
podem levar à infecções pelos agentes que normalmente compõem a flora normal.
O diagnóstico da Vaginose
Bacteriana baseia-se no pH, sempre maior que 4.5, e na presença de células
indicadoras ou “clue cells” no exame do corrimento. Por ser uma infecção superficial
onde a inflamação está ausente, a presença de leucócitos pode indicar outras
infecções, tais como a tricomoníase.
O diagnóstico para
Vaginose Bacteriana também pode ser feito através do método de coloração ao
Gram, pelo Papanicolau ou pelo isolamento bacteriano. O exame da secreção
vaginal através do Gram é mais relevante para o diagnóstico em relação ao isolamento
da Gardnerella vaginalis, já que esta bactéria é frequentemente parte da flora
endógena vaginal. O esfregaço corado ao Gram permite uma melhor avaliação da
flora vaginal e sua preservação permite sua utilização em exames comparativos
posteriores assim como a coloração pelo método de Papanicolau.
O objetivo do
tratamento é restabelecer a flora vaginal e aliviar a sintomatologia. Como
medidas gerais, preconiza-se abstinência sexual e utilização de duchas vaginais
com peróxido de hidrogênio a 1,5%. O tratamento farmacológico é feito com Metronidazol
e quando isolado de cultura pura como no caso de septicemia, deve-se usar
ampicilina ou amoxacilina. Sua presença em altas concentrações sugere um papel
muito importante nesta síndrome, embora não seja o único agente etiológico.
Figura
2:
Tratamento recomendado e posologia para a Vaginose Bacteriana (Fonte: PebMed,
2018).
CURIOSIDADES
Alguns pesquisadores
realizaram uma comparação de grupos afro-americanos e europeus e descobriram
que a etnia, a gravidez e o uso de álcool se correlacionaram significativamente
com a abundância relativa de espécies associadas à Vaginose Bacteriana. Um
fator que costuma causar muito confusão em relação a tais estudos
epidemiológicos tem sido as formas imprecisas em que o diagnóstico de Vaginose
Bacteriana é feito. Embora a coloração de Gram, cultura, critérios clínicos,
métodos de fenotipagem e métodos de diagnóstico molecular tenham sido utilizados,
nenhuma característica definidora única de Vaginose Bacteriana foi determinada.
Além disso, a Vaginose Bacteriana pode alterar os mecanismos de defesa
imunológica e é mais prevalente em populações de baixo nível socioeconômico,
idade reprodutiva, etnia não branca, nutrição inadequada, estresse
psicossomático e aqueles com maior número e frequência de parceiros sexuais.
REFERÊNCIAS:
Brubaker, Jennifer. Health Status
Disparities and the Microbiome. American Society for Microbiology, 2017.
Ferracin, Ingryt; de Oliveira, Rúbia
Maria Weffort. Corrimento Vaginal: causa, diagnóstico e tratamento
farmacológico. Infarma, 2005.
Gardnerella Vaginalis Bacteria. Pixels,
2018. </https://pixels.com/featured/1-gardnerella-vaginalis-bacteria-moredun-scientific-ltdscience-photo-library.html/>.
Acesso em: 24 de junho de 2019.
Gardenerella Vaginalis. MicrobeWiki
Gomes, Julianna Vasconcelos. O que há de
novo sobre Vaginose Bacteriana e Vaginite Inflamatória? PebMed, 2018. </https://pebmed.com.br/o-que-ha-de-novo-sobre-vaginose-bacteriana-e-vaginite-inflamatoria/>. Acesso em: 24 de junho de 2019.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA
Microbiologia:
Noções Básicas - 2019/2
Docente:
Marcelo Ehlers Loureiro
Discente:
Vinicius Teixeira Bravim
Nenhum comentário:
Postar um comentário