UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL DA BAHIA
IPF0450 - MICROBIOLOGIA: NOÇÕES BÁSICAS - 2019/2
DOCENTE: MARCELO EHLERS LOUREIRO
DISCENTE: BRUNA MARTINS GRASSI SEDLMAIER
IPF0450 - MICROBIOLOGIA: NOÇÕES BÁSICAS - 2019/2
DOCENTE: MARCELO EHLERS LOUREIRO
DISCENTE: BRUNA MARTINS GRASSI SEDLMAIER
CARACTERÍSTICAS GERAIS
Neisseria gonorrhoeae é um coco gram-negativo (forma geral esférica, em pares, com os lados adjacentes achatados), não flagelado, não formador de esporos, aeróbico ou anaeróbico facultativo. Geralmente encontrado em leucócitos com formas variadas de núcleos, sendo o ser humano o seu único hospedeiro natural. É altamente eficiente no uso de ferro ligado à transferrina humana; muitas cepas também podem utilizar ferro ligado à lactoferrina. Possuem Fímbrias: compostas de polímeros e proteínas estruturais (como a adesina – aderência na superfície da mucosa epitelial e colonização bacteriana), importantes na patogênese.
- Possuem um genoma circular de DNA.
- Pode produzir uma ou várias proteínas Opa. Estas proteínas estão sujeitas a variações de fase e são normalmente encontradas em células de colônias que possuem um fenótipo único opaco chamado O +. Em qualquer momento específico, a bactéria pode expressar zero, uma ou várias proteínas Opa diferentes, e cada cepa possui 10 ou mais genes para diferentes Opas.
- Sua membrana externa Gram-negativa é composta de proteínas, fosfolipídios e lipopolissacarídeos (LPS), com uma estrutura oligossacarídica basal altamente ramificada e a ausência de subunidades repetitivas do antígeno O, sendo então referidos como lipooligossacarídeos (LOS).
A N. gonorrhoeae é o agente etiológico da gonorreia - uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) presente em todo o mundo. Se não tratada, as complicações podem incluir inflamação pélvica, infertilidade ou disseminação e acometimento de doença sistêmica grave. Geralmente é sintomática nos homens (uretrite, com dor ou sensação de ardor durante a micção, corrimento uretral e testículos dolorosos) e nas mulheres a sintomatologia é menos frequente, podendo ocorrer cervicite gonocócica (apresentando um ligeiro aumento no corrimento vaginal), raro sangramento vaginal não relacionado a períodos menstruais, dor e sensação de queimação ao urinar.
PATOGÊNESE
A N. gonorroheae infecta o epitélio colunar (podendo ser na área orofaríngea, olhos, reto, uretra, abertura do colo uterino ou na área externa genital), ocorrendo ligação ao epitélio mucoso, mediada em parte pelas fímbrias e pela proteína Opa, em 24 a 48 horas, e pela penetração do organismo entre e através das células epiteliais para chegar ao tecido submucoso. Há resposta vigorosa de polimorfonucleares, com descamação do epitélio, desenvolvimento de microabscessos submucosos e formação de exsudato. Lâminas coradas revelam grande número de gonococos dentro de poucos neutrófilos, enquanto a maioria das células não contêm organismos. Às vezes, a N. gonorrhoeae pode entrar na corrente sanguínea causando uma bacteremia Gram-negativa que pode levar a uma infecção bacteriana disseminada (geralmente resistentes à reação bactericida sérica, podendo ser agravada pela lise de células bacterianas que podem liberar o LPS solúvel).
Alguns gonococos podem apresentar mecanismos de evasão contra a morte intracelular e continuam a multiplicar-se no interior das células do hospedeiro. Em infecções não tratadas, os macrófagos e linfócitos substituem gradualmente os polimorfonucleares. A infiltração mononuclear e linfocítica anormal persiste em tecidos por várias semanas após a negativação das culturas e a não identificação da N. gonorroheae na histologia. Durante o crescimento, a bactéria libera fragmentos de membrana externa chamados "blebs". Estes contêm LOS e tem um papel na patogênese se forem distribuídos durante uma infecção.
Devido ao surgimento de resistência aos antibióticos, as diretrizes para o tratamento dessa patologia requerem constante revisão. Nos casos de acometimento dos tecidos cervicais, uretrais ou retais, geralmente recomenda-se a utilização das cefalosporinas, como a ceftriaxona ou o cefixime. No entanto, é importante também tratar os parceiros sexuais, a fim de diminuir o risco de reinfecção e a incidência da patologia.
Essa resistência pode ser atribuída à propensão para a transferência horizontal de genes, à transformação eficiente, ao genoma dinâmico e variável e ao reparo de material genético recombinacional para combater a oxidação do seu DNA. Sendo assim, é necessário compreender os mecanismos de resistência e desenvolver novas terapias, para evitar gonorreias intratáveis.
Pode ocasionar conjuntivite gonocócica (hereditariamente transmitida da mãe para o filho, ou sexualmente transmitida pelo intercurso geno-oftálmico.
ECOLOGIA
Este organismo é relativamente frágil e é suscetível a mudanças de temperatura, secagem, luz UV e algumas outras condições ambientais (Baixa resistência ao meio externo).
Pode mover-se de maneira irregular através de superfícies sólidas. Esse tipo de motilidade é chamado de contração e se dá por meio de um mecanismo de "gancho", que é a extensão do pili, sua fixação e sua retração de volta à célula. A motilidade da contração também contribui para a formação de biofilmes. Durante o crescimento, a N. gonorrhoeae libera fragmentos solúveis de peptidoglicano (moléculas implicadas na patogênese de diferentes formas de infecção gonocócica).
A N. gonorrhoeae não é utilizada em nenhuma biotecnologia conhecida.
MEIOS BIOQUÍMICOS DE IDENTIFICAÇÃO
Principais métodos de diagnóstico da patologia: BACTERIOSCOPIA e CULTURA.
O fluxograma para cultura, isolamento e identificação, do Curso Telelab – Ministério da Saúde / Programa Nacional de DST e AIDS, mostra o passo a passo para identificar esse patógeno, visando basicamente as reações obtidas quando se tem a presença de N. gonorrhoeae (veja a seguir).
1º - coleta de secreções - semeadura imediata (no meio de transporte), com condições ideais - Atmosfera de CO2: 3 a 7% / Teor de umidade: 90% / Temperatura de incubação: 35°C / Nutrientes.
E ainda, tem-se a identificação pelo teste de ELISA, que detecta N. gonorrhoeae no pus uretral ou em esfregaços cervicais, em cerca de 3 horas, com grande exatidão. Esse teste utiliza anticorpos monoclonais contra antígenos de superfície dos gonococos. Assim como há também os testes de amplificação de ácido nucleico.
DADOS CURIOSOS
Albert Ludwig Sigesmund Neisser (foto a seguir) descreveu o organismo em 1879, e Leistikow e Loeffler o cultivaram em 1982, quando recebeu a denominação de Neisseria gonorrhoea.
O nome gonorreia origina-se do grego e foi Galeno (130-200 d.C.) que assim a denominou - gonorreia (gonos = espermatozoide + rhoia = corrimento), pela confusão do exsudato purulento com sêmen.
As chances de infecção após uma exposição não protegida é de 20 a 35% nos homens e de 60 a 90% nas mulheres.
Uma variante da proteína Opa se liga ao receptor CD66 das células T CD4+, necessário para ativação e proliferação da infecção. Isso inibe o desenvolvimento de uma resposta imune de memória contra os gonococos (o que pode explicar também por que indivíduos com gonorreia são mais suscetíveis a outras ISTs, incluindo o HIV).
PARA LER MAIS…
“Drug Resistance Gene Expression Differs between Males and Females in Gonorrhea Infections” (“Expressão gênica de resistência a drogas difere entre homens e mulheres em infecções por gonorreia”) - American Society for Microbiology (ASM).
“Genetic characterisation of Neisseria gonorrhoeae resistant to both ceftriaxone and azithromycin” (“Caracterização genética de Neisseria gonorrhoeae resistente a ceftriaxona e azitromicina”) - The Lancet.
REFERÊNCIAS
- COSTA-LOURENCO, Ana Paula Ramalho da et al. Antimicrobial resistance in Neisseria gonorrhoeae: history, molecular mechanisms and epidemiological aspects of an emerging global threat. Braz. J. Microbiol., São Paulo, v. 48, n. 4, p. 617-628, Dez. 2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-83822017000400617&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 24 Jun 2019. http://dx.doi.org/10.1016/j.bjm.2017.06.001.
- Cultura, isolamento e identificação da Neisseria gonorrhoeae. Cursos TELELAB. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=vACrU7Y-tW8. Acesso em: 24 Jun 2019.
- Handsfield HH, Sparling PF. Neisseria Gonnorrhoea. In: Mandell GL, Bennett JE, Dolin R. Mandell, Douglas and Bennett. Principles and practice of infectious diseases, 4th edition, Churchill Livingstone, p 1909-1927, 1995.
- Neisseria gonorrhoeae - Microbewiki. Disponível em: https://microbewiki.kenyon.edu/index.php/Neisseria_gonorrhoeae. Editado por Maricor Sicat, estudante de Rachel Larsen; Editado por KLB. Acesso em: 24 Jun 2019.
- Nature Reviews Microbiology. Neisseria gonorrhoeae host adaptation and pathogenesis. Disponível em: https://www.nature.com/articles/nrmicro.2017.169. Acesso em: 24 Jun 2019.
- PENNA, Gerson Oliveira; HAJJAR, Ludhmila Abrahão; BRAZ, Tatiana Magalhães. Gonorréia. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 33, n. 5, p. 451-464, Oct. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0037-86822000000500007&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 24 Jun 2019. http://dx.doi.org/10.1590/S0037-86822000000500007.
- TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R.; CASE, Christine L. Microbiologia. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017.
- 8th International Conference on Bacteriology and Infectious Diseases. Neisseria gonorrhoeae: Combating a Multidrug-Resistant Organism. November 22-23, 2018 Cape Town, South Africa. Disponível em: http://infectiouscongress.blogspot.com/2018/08/neisseria-gonorrhoeae-combating.html. Acesso em: 24 Jun 2019.
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